As pessoas sempre perguntam se é difícil migrar do corporativo ou de outro tipo de atividade, para um trabalho alinhado ao propósito de vida. Minha resposta é: “seja autêntica, criativa, prepare-se e corra atrás do que você quer! E uma dica: acredite na sutileza das conexões”.
Em meados de 2008, me encontrava exatamente nessa situação. Sentia que estava deslocada no mundo corporativo. Apesar de adorar o que eu fazia e ser agradecida a tudo que aprendi e vivi em instituições financeiras, algo estava errado. Comigo, é claro!
Tentei migrar de área no próprio banco. Desde 2001, eu já fazia cursos, participava de eventos e acompanhava todo movimento de Responsabilidade Social e Investimento Social Privado nas empresas. Investi numa especialização no Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (CEATS/FIA), que era um dos principais cursos de gestão na época. Pensava assim: “esse tema desperta meu interesse e, ao mesmo tempo, pode me manter na organização”.
Porém, não foi isso que aconteceu. Após várias tentativas frustradas, tanto interna quanto externamente, pois também mandei curriculuns para Organizações da Sociedade Civil, tive uma iniciativa que, para alguns, pode ter sido uma exposição exagerada, mas que foi decisivo em minha trajetória. Afinal, tinha um bom emprego em uma renomada organização internacional. Por outro lado, não tinha dúvidas que daria certo. Abusei da criatividade, preparei uma carta abrindo o coração sobre o meu desejo de ampliar o olhar social do trabalho, pesquisei instituições e encaminhei para aquelas que eram associadas ao Grupo de Instituições, Fundações e Empresas (GIFE). Não estou certa, mas creio que tenha sido mais de sessenta organizações.
De toda essa lista, sabe quantos retornos eu tive? Um retorno! A primeira coisa que vem a cabeça é: “mais uma frustração”. Porém, jamais diga “apenas” uma. Ele pode ser unicamente o que você precisa!
Era final de tarde quando recebi a ligação da Regina. Ela se identificou dizendo que eu havia encaminhado uma carta para a Fundação Iochpe e que a presidente gostaria marcar uma conversa. Agendamos um horário na mesma semana, logo após o expediente. Confesso que não fui fazer uma pesquisa sobre a presidente da Fundação. Estava tão aberta a novas experiências que o importante seria conhecê-la e ouvi-la, saber o que ela tinha a dizer.
Lembro-me que o endereço me levou a uma charmosa vila na Al. Tietê, nos Jardins, em São Paulo. Qualquer pessoa que chegasse ali, na primeira casa à esquerda, ficaria encantada! Havia muita cor e obras de arte por todos os lados! Regina carinhosamente me recebeu e disse que a sra. Evelyn estava a minha espera. Subi as escadas para o primeiro andar e me deparei com uma mulher lindíssima, elegante, usando um óculos vermelho super moderno. Sentamos frente a frente e iniciamos uma conversa, instantaneamente, empática. Despretensiosa, ela disse que não tinha vagas na Fundação, mas que “gostou muito da minha carta, que tinha achado criativa e queria me conhecer”. Fomos conversando e, ao final, ela me propôs a realização de um freela em marketing. A partir daí, ela não só abriu as portas da sua casa como também, para oportunidades que jamais poderia imaginar: grandes amizades, aprendizados em arte e cultura, mestrado, bolsa de estudos internacional, muito trabalho e parcerias mantidas vivas até hoje.
Tempos depois, já no mestrado e conversando com meu orientador, comentei algo sobre a sra. Evelyn. Foi aí que soube que ela foi uma das precursoras do debate sobre Terceiro Setor e Cidadania Empresarial no Brasil e quem criou o GIFE. O GIFE? Sim, aquele que busquei os associados para mandar as cartas e que “apenas” uma organização retornou!
Alguns dizem que isso tudo foi sorte. Sorte, não. Conexão, sim!
A sra. Evelyn faleceu no ano passado. Serei sempre grata àquela deliciosa conversa e ao cafezinho, perfeitamente arquitetados por uma energia maior e muito especial.